A última chance – Parte 2

Sérgio Thorres

SINOPSE: Em suas idas e vindas J.P deseja consertar algo que supostamente saiu errado e assim salvar Cléo, mesmo que lhe custe a própria vida. Para que isto aconteça conta com a ajuda inusitada de Geena, porém, só resta uma única chance…

O senhor Fred não imaginava que eu estaria munido de todas as senhas daquele corredor. Logo que saiu, aguardei alguns minutos e segui rumo à sala de Cleonice. Com a sensação de ser um espião, me esgueirei pelos corredores com todo o cuidado pra não ser pego. Sabia também que naquele momento somente a atendente e o senhor Fred estavam no prédio.

Caminhando quase gatinhando, ouvi algo estranho. Um barulho semelhante à madeira batendo no piso. Um som meio choco e amortecido. Então reconheci. Eram passos e vinham em minha direção. Só podia ser a atendente e, pela intensidade do barulho, se aproximava do corredor em que eu estava. Parei frente à porta mais próxima e comecei a digitar todas as senhas que conhecia, mas nenhuma dava certo. “Esta porta parece não estar aqui no futuro”, imaginei justificando a senha não funcionar. Assustado, notei que o barulho parou logo no início do corredor. No momento, senti um balde d’água gelada ser despejado em mim.

Fechei os olhos e fiquei assim por alguns segundos até que ouvi uma respiração forçada misturada com um resmungar. Olhei de canto e vi a atendente parada com a cabeça baixa. Nervosa, manuseava com dificuldade alguns documentos. Escorregavam por suas mãos. Percebi também que não fui visto nem ouvido. Notei pelos fones de ouvido e pelo gingado que seu corpo trazia. Suspirei aliviado. Já imaginei o que pensaria ao se deparar comigo agachado tentando inserir uma senha e com cara de gatuno. Com certeza chamaria o senhor Fred.

Olhei de volta pro painel da porta e, como que num sorteio, continuei a digitar, mas ainda não funcionava. Então ela iniciou sua caminhada e depois olhou pra frente. Não sei se me viu. Somente que a porta se abriu me jogando pra dentro daquela sala escura. Acho que, se ela tivesse me visto, eu saberia. Do lado de dentro daquele ambiente escuro e encostado na parede ao lado da porta, fechada, respirei forte. Senti o frio gelado das grades de uma cadeia. Olhei pra frente. Na penumbra dava pra ver uma mesa diferente. Acionei o interruptor de luz e vi ao lado uma moldura com o nome: Dra. Geena Kirsten. Não tive dúvidas de que era a sala de Geena. Realmente no futuro aquela sala não existia ou fora pra outro local. Fiquei deslumbrado com os desenhos, gráficos e prospectos que havia ali. “Geena é uma cientista!”, pensei intrigado. No computador de última geração, alguns post-its colados ao lado do monitor mostravam números variados, equações distintas e complexas. “Não sabia que era tão ligada à ciência”, murmurei.

Desejei sair, mas o display da porta havia apagado, portanto a senha se perdera. “Droga!!”, murmurei pensando ter ficado preso ali. Mas, ao reparar, notei que a porta não se fechara por completo, ficando apenas encostada. Pra que não se trancasse, coloquei um pequeno calço e voltei a atenção pro mistério contido naquela sala. Com a curiosidade aflorada, fui mais além e liguei o computador. Não pediu senha. Fiquei intrigado, mas desconsiderei. Qual foi minha surpresa quando me deparei com diversos prospectos. Falavam de como manipular o tempo.

No canto superior direito da tela, um ícone fisgou meus olhos. Um triângulo isósceles se destacava. Cliquei nele. Apareceu uma enormidade de fórmulas e um texto com um gráfico no qual estava escrito: “Retorno Seguro”. Tudo sobre como voltar ao passado sem causar sérias alterações no futuro. Ainda intrigado com aquilo, ouvi outra vez o som de passos no corredor. Intuí que a atendente retornava. Esperei ela passar. Desliguei tudo e saí. Olhei pro relógio e vi que o senhor Fred voltaria antes que terminasse a troca dos “Compostos”. Aquele tempo em que fiquei lá interferiu no planejado. Tinha que encontrar uma saída. Precisava ser rápido senão tudo iria por água abaixo.

Preciso atrasá-lo, mas como?”, pensei afoito. Uma ideia surgiu como que do nada. Fui até o setor onde o senhor Fred estava. Passando pela porta, cuidadoso, o vi terminando de organizar umas caixas. A certa distância, uma porta larga mostrava do lado de fora algumas latas que pareciam estar vazias. Com destreza desconhecida, mirei e joguei um rolo de fita crepe, encontrado numa prateleira próxima. O senhor, assustado com o barulho, colocou a mão no cabo do revólver que trazia na cintura e foi até lá conferir. Enquanto isso, desorganizei algumas das caixas e saí rápido. No caminho, destranquei algumas portas com o intuito, também, de atrasá-lo. Depois segui pra cumprir, por fim, minha missão.

Com passos silenciosos, entrei na sala esperada e tive outra surpresa. Percebi um laboratório sofisticado. Possuía equipamentos de última geração. Pelo que via eram muitos projetos que Cléo elaborava. “Ela era o coração do Laboratório Khinnyss. Geena planejava, e Cléo executava”, sussurrei comendo aquele lugar com os olhos.

Ainda maravilhado, procurei pelo frasco do “Composto” pra que fosse trocado pelo que estava em meu bolso. Depois de muito procurar, encontrei um em meio a algumas anotações datadas do próximo dia. Intuí ser o frasco correto, mas, ao me aproximar desajeitado, tropecei. Num total desequilíbrio, atingi a quina da mesa e aconteceu o pior. O frasco que eu tinha preparado caiu, e o líquido vermelho róseo se espalhou pelo chão. A frustração foi grande. Outra vez senti algo congelar minhas ideias. “Que desastrado!!”, sussurrei desejando uma autoflagelação. Com as mãos na cabeça, tentava pensar em algo que pudesse solucionar aquilo. Não dava tempo de preparar outro, mesmo tendo todos os ingredientes a meu dispor.

Então uma solução surgiu enquanto limpava a sujeira. Precisava localizar a fórmula que Cléo utilizava e substituir pela modificada, que, por certo, se encontrava enraizada em minha memória. Adicionei água pra desestabilizar o composto desenvolvido por ela. Assim teria de preparar outro com a fórmula que estaria no computador. Só então reparei que o computador principal era antigo. Uma sala toda moderna e um sistema controlado por uma máquina desatualizada. Estranhei. Também não pediu senha. Foi fácil localizar o arquivo. Ela também o denominava por C.P.M. Fiz as alterações necessárias e, ao fechar o programa, ouvi um som de porta se fechando. O senhor Fred estava conferindo as salas que eu tinha aberto. Em pouco tempo ele estaria no depósito de insumos e não me encontraria lá, óbvio.

Fechei os programas e dei um desligar no computador, mas o dinossauro não queria parar de trabalhar. Já não sabia o que fazer e em instantes outro barulho de porta se fechando forçou meu fôlego. Vendo que aquela máquina jurássica não desligava, meti a mão na tecla Power obrigando-a a se desligar. Fiquei temeroso pensando se poderia ter causado alguma avaria no sistema, mas precisava sair o mais rápido possível…

CONTINUA…

Antonio Sérgio da Silva (Sérgio Thorres), nasceu em Itaúna, Minas Gerais. Possui formação técnica em “Eletroeletrônica” e seu gosto por “literatura fantástica e ficção científica” liberou seu lado criativo mostrando que não há idade para se começar algo. Ao longo de seus 51 anos, há dez como amante da escrita, vive em meio a escrita, tendo como princípio a saga “Filhos de Lhuxxor” (ficção científica). Participante da coletânea “Hipérboles“, (Editora Ramos).

15 comentários em “A última chance – Parte 2

  1. Estou muito ansiosa para ler o final. Confesso que adoro esse tema de viagem no tempo, que está muito bem trabalhado no seu conto. Consegui imaginar todas as cenas, como se estivesse vendo um filme!

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  2. Seu conto me prendeu muito. Fiquei imaginando as cenas e me identifiquei muito com o personagem desastrado. É bem a minha cara, na hora H, eu deixar algo cair e quebrar. rsrs. Estou muito curiosa para ler o final.

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