Guerreiras de nossa pátria

Por Toni Ramos Gonçalves

Mariana Amália do Rego Barreto (Enfermeira) Foto: Domínio Público

No Dia Internacional da Mulher quero destacar algumas das inúmeras mulheres guerreiras e grandes heroínas de nossa pátria que de alguma maneira contribuíram bravamente na Guerra do Paraguai (1864-1870), o conflito mais sangrento da América do Sul.

O exército paraguaio invadiu o Mato Grosso em 1864, e diante a fuga dos militares brasileiros, deixaram a população a mercê das atrocidades dos invasores que saquearam, mataram e estupraram. Coube ao Império brasileiro, que não possuía um grande exército (16 mil homens mal treinados e mal armados) apelar para o espírito cívico de sua população, criando Os Voluntários da Pátria. Fizeram inúmeros apelos e promessas (que ao término do conflito não cumpriram) para quem se alistasse.

E um destes voluntários foi Antônia Alves Feitosa, mas conhecida por Jovita, de dezoito anos, que nasceu em Brejo Seco no Ceará. Ao saber das violências que os invasores cometiam contra as mulheres, não hesitou e foi se alistar em Teresina, no Piauí.  Ao chegar à cidade vestiu trajes grosseiros de homem, cortou os cabelos com uma faca, tomou um chapéu de couro e se alistou. Porém, o seu disfarce durou pouco, pois foi logo reconhecida por outra mulher, devido aos furos de brincos nas orelhas.

Após os interrogatórios realizados pelos comandantes, surpreendidos pela coragem e bravura da jovem que queria combater os invasores guaranis, aceitaram-na como voluntário no posto de segundo sargento e juntamente com outros praças saíram em direção ao Rio de Janeiro. Durante todo o trajeto foi saudada por onde a tropa passava (Pernambuco, Bahia). Todo mundo queria conhecer a nossa Joana D’Arc. Incentivou homens e mulheres a se alistarem. Teve uma criança de nove anos quis se alistar, logicamente sem sucesso.

Porém, ao chegar ao Rio de Janeiro, veio a decepção. O alto comando do exército não a aceitou como combatente destituindo-a de seu posto e em compensação ofereceram a Jovita um cargo como enfermeira, que foi rejeitado por ela. Decepcionada, ficou no Rio de Janeiro e sem recursos financeiros acabou se prostituindo. Em 1867, após o seu amante, o engenheiro galês Guilherme Noot, partir para a Inglaterra, sem dela se despedir pessoalmente, acabou cometendo suicídio com uma punhalada no coração.

Além da trágica história de Jovita, a Guerra do Paraguai nos apresentou outras heroínas. Entre elas Mariana Amália do Rego Barreto, 18 anos que também foi aclamada em praça pública ao se alistar; Isabel Maria da Conceição, de 22 anos que queria acompanhar o irmão já praça; Joana Francisca Leal Souza, que também chegou ao Rio de Janeiro ao lado de Jovita; A baiana Ana Néri que acabou se tornando patrona dos cursos de enfermagem e em 2009, foi a primeira mulher a entrar para o Livro dos Heróis da Pátria; Maria Francisca da Conceição, mais conhecida como Maria Curupaiti, que acompanhou o marido no front, que assim como Jovita, cortou os cabelos e se enfiou na roupa do marido e partiu para o combate (Curupaiti, foi a maior derrota dos aliados da tríplice aliança formada por Argentina, Uruguai e Brasil). Ela pegou a arma do primeiro soldado abatido e atacou. Ao ver que o marido foi morto por um tiro na testa continuou a lutar até ser ferida em combate. No hospital descobriu-se que era mulher e foi aceita como combatente.

Outras mulheres à paisana seguiram as tropas brasileiras, onde filhos e maridos se alistaram e auxiliavam de alguma forma nos arredores dos acampamentos. Ao fim da guerra, as viúvas dos combatentes ainda enfrentariam a miséria, pois o governo não cumpriu com o prometido e um destes compromissos era o pagamento das pensões. A guerra continuou, porém noutro cenário, numa sociedade totalmente patriarcal, jogadas a própria sorte.  

Por isso a importância de se perpetuar a memória destas guerreiras esquecidas na história deste país. A elas toda justiça e nosso reconhecimento como heroínas.

Antônia Alves Feitosa (Jovita) Foto: Domínio Público

Referências:

Jovita Alves Feitosa, de José Murilo de Carvalho;

Histórias das Guerras, de Demétrio Magnoli;

A Guerra do Paraguai, de Luiz Octávio de Lima.

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