Saudade

por Antônio de Paula Apoli

Foto: Rodolfo Clix (Pexels)

A saudade é um sentimento universal, tem na acepção da palavra os mais diversos sentidos. Não tem uma tradução para outros povos, ou o mesmo sentido que tem para nós brasileiros. Não há uma tradução literal, mas é comum encontrar alguém no metrô de Londres pronunciando “I’m missing longing”, ou, no trem-bala de Tokio, ouvir-se quase um cântico “Suki deso”. Aqui, no Brasil, fala-se em matar a saudade, com certeza será um reencontro. Dizem que a saudade é mato, uma hipérbole. Por aqui, até comemoramos o dia da saudade, 30 de janeiro. A palavra tem origem no latim, superindui cupients. No nosso entendimento, saudade tem incontáveis definições, pode denotar apego, carinho, nostalgia, frustrações, solidão, perda… e por aí vai. Recorrente na prosa, na música, na poesia, mas principalmente nos corações. Todos nós ou já sentimos saudades ou ainda sentiremos. O preciosismo do sentimento Saudade remete-nos a lembranças das pessoas com as quais convivemos e depois se distanciaram. Saudade é aquele sentimento bom de se ter. Só a temos por quem nutrimos apreço e calorosas e impagáveis lembranças. É um sentimento zeloso que perdura por toda vida. Aqueles que deixam a casa dos familiares e vão para outra cidade, outro estado ou outro país sentem mais, pois se afastam das famílias, dos amigos e de todo seu cotidiano. Aqueles que ficam também são acometidos de pesares pelo distanciamento, sempre à espera da volta, ainda que apenas para uma visita. Sempre atentos ao ranger do portão, o tilintar da campainha.

Lembrar aproxima as pessoas por momentos, é como se estivessem ali bem próximos, sentindo aquela alegria, revivendo passagens de suas vidas de  momentos memoráveis.
O afastamento é quase sempre doído, mas muitos são necessários para realização de sonhos e projetos de vida, às vezes pelo término de um ciclo, também pelo crescimento espiritual e pessoal, encorajados por uma força grandiosa natural de cada ser humano.


Quando falo de saudade, recorro às mais inesquecíveis experiências vividas. São lembranças claras, normalizadas no projeto de Deus para comigo. Recordo de minha mãe, preparando os bolinhos de chuva de que eu tanto gostava. Do meu pai, já viúvo aos trinta e nove anos, com uma dedicação absoluta a nós, filhos. Quanta generosidade para conosco! Relembro o futebol no Bela Vista, as peripécias na fazenda, os irmãos, os amigos, a primeira namorada.


Saudade que materializa nossos pensamentos, que nos permite identificar as nossas origens e engrandece a alma. Saudade que escorre pelos olhos, embarga a voz, palpita o coração e vivifica o calor humano entre nós.


Saudade é o grito contido, o silêncio que habitualmente me faz refletir sobre as ausências.

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