Colecionando escritores: Laurentino Gomes

Por Toni Ramos Gonçalves

O Brasil tem seu corpo na América e sua alma na África. Padre Antônio Vieira (Epigrafe do livro Escravidão)

Foto: Sempre um Papo

No dia 09 de outubro de 2019, uma quarta feira, novamente percorri (ida e volta) 160 quilômetros de Itaúna a cidade de Belo Horizonte para mais um evento do Sempre um Papo.

Para muitos, isso é loucura, mas para mim é uma das aventuras que mais gosto. Decidi ir de última hora, pois sempre gosto de me surpreender.  Aliás, era preciso, pois o autor convidado era nada mais, nada menos que o escritor e jornalista Laurentino Gomes, autor da consagrada trilogia, os livros 1808, 1822 e 1889.

Os livros didáticos e acadêmicos, na opinião do autor, são essenciais para as pesquisas, mas frios para leitura do público em geral. Numa narrativa menos técnica e mais atraente, Laurentino Gomes conquistou inúmeros leitores pelo Brasil, acabando com a sina que a História é chata. Através de seus livros pode-se revisitar o passado sem uma linha tendenciosa. Isso não quer dizer, que os fatos narrados por ele seja a versão correta e final. Existem várias maneiras de contar (ou relatar) uma história, por isso a importância do trabalho dos historiadores, pois através de suas pesquisas (seus ensaios são todos baseados em artigos históricos, como deve ser feito) é possível narrar os fatos de uma forma mais verídica. E esse estilo literário é muito bem aceito por quem o lê. E isso, constatei no Teatro Sesiminas, na capital mineira. O público eclético era composto por pessoas de várias idades, que se perfilavam na fila uma hora antes do horário previsto para o evento.

Foto: Sempre um Papo
Eu na fila, uma hora antes do evento

Emoção maior (sim, eu me arrepiei todo) quando o mediador, o escritor Carlos Marcelo, anunciou a entrada de Laurentino Gomes. Estar ali, diante de um dos maiores escritores e jornalistas do Brasil foi uma experiência única.

Com seu jeito cativante respondeu as perguntas de maneira precisa, feitas pelo mediador e público, sem em algum momento ser prolixo (comum entre a maioria dos historiadores e escritores). O bate papo agradável e informativo poderia durar horas que nenhum dos ouvintes reclamariam. Também testemunhei, assim como todo o público presente, a epopeia vivida pela professora Andrea Leite e seus alunos da Escola Estadual Antônio Belarmino Gomes, de Divinópolis que saíram de sua cidade às 14h30min e tiveram um contratempo com o ônibus quebrando durante o trajeto, além daquele previsível e conhecido congestionamento de quem chega e sai de Belo Horizonte. Chegaram quase no final do evento, que gentilmente Laurentino fez questão de prorrogar por mais trinta minutos, para alegria do público presente. E todos se mostravam felizes, incluindo professora e alunos, mesmo diante os contratempos.

Foto: Sempre um Papo
Laurentino Gomes e o mediador Carlos Marcelo

E para completar a noite perfeita, Laurentino Gomes revelou que ser fã do brasileiro João Guimarães Rosa e seu livro preferido do autor era Sagarana. Lamentou que esse gênio literário não receber o Nobel de Literatura. Como muitos sabem, o escritor Guimarães Rosa, que também sou fã e estudioso de sua obra, foi escolhido por mim, para ser meu patrono na Academia Itaunense de Letras.  

Eram 22h30min quando o autor, sem mostrar qualquer desconforto ou cansaço (autografou pelos meus cálculos mais de 250 livros) perfilou ao lado dos alunos para uma foto histórica e memorável.

Foto: Sempre um Papo
Laurentino Gomes e os alunos da E. E. Antonio Belarmino Gomes, de Divinópolis – MG

Quanto ao livro Escravidão, pedirei a você, meu caro leitor que o leia assim que possível, pois se trata de uma obra obrigatória a todo brasileiro. Devemos refletir e se conscientizar sobre a grande responsabilidade que carregamos de nossos antepassados, seja qual for sua etnia, ainda mais quando vivemos esses tempos obscuros, diante uma grande ameaça ao nosso futuro. Aliás, segundo Laurentino Gomes, a escravidão é uma chaga aberta na história humana e cabe a nós curar essa ferida.

Até a próxima aventura!

Foto: Toni Ramos Gonçalves
Eu e Laurentino Gomes

Um comentário em “Colecionando escritores: Laurentino Gomes

  1. Muito bom texto. E realmente quem consegue aproximar a historia de forma suave tem um grande mérito, pois só conhecendo- a podemos entender melhor o presente e tentar melhorar o futuro.

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